segunda-feira, dezembro 29, 2008

METAMOR

METAMOR


lascivos baques
de um coração
que casula
descrisálidam-no
almaque
de expressões
seminulas

quarta-feira, dezembro 24, 2008

NARCISO ou SOLIDÃO ABSOLUTA

NARCISO ou SOLIDÃO ABSOLUTA


espalho
espelhos
pelos
olhos
alheios


segunda-feira, dezembro 01, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - LAR

ANTÔNIO DESLUMBRADO NO OCEANO DE AREIA



Lá não se via ninguém, apenas rastros de passagens distantes no já foi e possibilidades de encontros em um por vir difícil de supor.

Quando Antônio Deslumbrado finalmente se depara com a indefinição vertiginosa do mar, o que mais lhe prende a atenção são os banhistas, os pescadores e os transatlânticos desbancando a unidade infinita das águas. À primeira vista, o oceano lhe parece tão gigantesco quanto é uma lágrima na terra seca de sua casa.

— Oh, quão maravilhosa é a vastidão do meu sertão, cuja maior virtude é não caber em si de solidão!

sexta-feira, novembro 28, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - FELICIDADE

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA CAMINHADA CIRCULAR



A imensidão que acolhia Antônio antes que este resolvesse descobrir o mundo não era suficiente para suportar tudo o que nele havia de curiosidade e desejo efêmeros. Para o alívio da alma de Antônio Deslumbrado, era preciso abrir a porteira cuja cerca impedia a expansão do horizonte.

Em seu caminhar trôpego, Antônio Deslumbrado se depara com um velho andarilho conhecedor de diversos pedaços avulsos do mundo. Este lhe fala da austeridade de Machu Pichu, da dor no teatro japonês, do fervor do cinema indiano e das cores da sequidão. Entretanto, lamenta-se profundamente por ter perdido a consciência divisória de lar, a qual limitaria o espaço para onde gostaria de voltar e descansar neste instante.

— A felicidade é o nunca.

quarta-feira, novembro 26, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - SOLIDÃO

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA BOATE SOLIDÃO



Estar só, para Antônio Deslumbrado, era vagar na imensidão dos dois mundos que habitava: o dentro e o fora. Em seu lar, não se corria o risco de ser interrompido em seu vazio, visto que o mínimo de animais que ele poderia encontrar naquelas bandas de secura, todos eles, respeitavam-no, ficando, assim, as divagações livres para suprimir o universo por completo.

Antônio Deslumbrado entende menos ainda a cidade à noite, quando as pessoas parecem querer desengolir algo que puseram pra dentro a contragosto. Pára em uma boate, lugar que lhe disseram ser ótimo para espairecer, e encontra um ninho de pessoas ávidas para vomitar seus males, esgueirando-se e se tocando em uma solidão desconcentrada.

— O que falta nesta cidade é chão para ficar só e não ser interferido pelos enganos do ego.

sexta-feira, novembro 21, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - MEMÓRIA

ANTÔNIO DESLUMBRADO NO TRONCO HISTÓRICO



Não é que Antônio Deslumbrado levasse uma vida frustrante. Onde vivia seco, qualquer coisa possuía extensões de seus sentimentos. Tudo a sua volta estava marcado com pegadas de suas recordações, marcas de seu amor e sua melancolia. O que o fez deixar seu mundo de espelhos foi a inquietude nascida no desejo de conhecer tudo o que não era ele próprio.

Antônio Deslumbrado chega ao logradouro que lhe disseram ser considerado o bairro histórico da cidade e se sente angustiado. Procura razões nos casarões antigos, na arquitetura luxuosa, nas alamedas simétricas, nos calçamentos de mosaico e nas luminárias dançantes, mas nada sente. Desiludido, pára e descansa sobre as raízes de uma velha árvore cujo tronco, ele vê, está repleto de declarações de amor escritas a canivete em tempos indizíveis.

— Graças a Deus! Finalmente encontrei o monumento histórico essencial deste lugar pobre de sinalizações!

quarta-feira, novembro 19, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - FOME

ANTÔNIO DESLUMBRADO NO PERCURSO DA FOME



Maria Doçura, todas as manhãs, dançava milho às galinhas. Não era simplesmente o ato de alimentá-las fisicamente; ela se comunicava e nutria suas almas através dos movimentos encantados e do calor dos seus poemas corporais.

Comendo desajeitado algo que conseguira numa bodega generosa, Antônio Deslumbrado é desafiado por um cão de rua. Muito magro, o animal emite um pedido fino e, após receber o alimento cedido por Antônio Deslumbrado, se põe a seguir seus passos.

— Venha comigo e descobrirás que comer apenas por fome não é o suficiente quando se conhece Maria Doçura, minha musa.

terça-feira, novembro 18, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - TRISTEZA

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA PRAÇA DAS CAVEIRAS



Certas noites, depois que a casa envolvia-se num sono inebriante, Antônio Deslumbrado saltava a janela do quarto para pôr-se diante do cacto que o hipnotizava desde a infância. Seu formato era esbelto e lúgubre: assemelhava-se a um homem moribundo em uma súplica derradeira.

Antônio Deslumbrado percorrera diversas situações superficialmente desagradáveis até que, ao se aproximar de uma praça despedaçada, alguém o previne de que está entrando no ambiente mais triste do mundo. Lá, enroladas em pedaços podres de pano e papelão, pessoas feitas apenas de osso e pele gemem e se esquentam umas nas outras.

— Ora, estão cegos? Não é esta a real beleza da tristeza que deveriam exibir...

segunda-feira, novembro 17, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - NOITE

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA NOITE ENDIADA



A densidade da escuridão onde vive Antônio Deslumbrado é tanta que se tem a impressão de que mais perto está o longínquo e que dificilmente se alcançará o que deveria estar a três passos. Desta forma, os habitantes do lugar, à noite, guiam-se mais pela lembrança do que pelos sentidos.

Passadas esquinas com postes de iluminação, semáforos, anúncios luminosos e faróis de automóveis, Antônio Deslumbrado avista um beco moribundo que abre uma pequena listra negra adjacente ao brilho incandescente da cidade anoitecida e penetra o breu.

— Enfim, um lugar de onde ainda não roubaram a graça essencial da madrugada...

sexta-feira, novembro 14, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - TEMPO

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA NOITE ANACRÔNICA


Na secura em que vivia, Antônio Deslumbrado era abençoado pelos grilos. O passar do tempo, quando escuro, era contado na cadência do canto do inseto. Assim, a noite acontecia de mansinho e dava dobras em seu trajeto.

A cidade à noite apaga o fulgor das estrelas mais próximas e inibe as manifestações sonoras do tempo. As buzinas e os letreiros distraem os transeuntes e aceleram o compasso dos segundos. Por mais que se empenhe, é impossível para Antônio Deslumbrado prolongar a passagem, aqui fugaz, de um grilo em sua atividade frustrada.

— Quanto mais este mundo imenso alarga, tão maior se torna a minha casa!

quinta-feira, novembro 13, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - BONECAS

ANTÔNIO DESLUMBRADO NA CASA DAS BONECAS



Antônio Deslumbrado deixou seu lar aos cuidados de Maria Doçura, que o divinara para seu ainda moça. Na casa que compartilhavam, a secura era distraída pelos risos vívidos que Maria espalhava nas paredes feito enfeites de um natal permanente.

Divagando pelas ruas da descoberta recente, Antônio Deslumbrado acaba entrando numa loja de brinquedos, e nesta descobre a casa das bonecas. O cubículo muito iluminado parece refletir o brilho nos olhos e no sorriso satisfeito das meninas que apertam os objetos para ouvir as frases gravadas dentro deles: “Vamos brincar!”.

— Se vocês conhecessem Maria, minha musa, veriam o quanto é mais divertido quando não temos que ativar algo para nos sublimar, pois, assim, podemos sempre ser arrebatados de surpresa!

quarta-feira, novembro 12, 2008

ANTÔNIO DESLUMBRADO - CHEGADA

ANTÔNIO DESLUMBRADO NO ARCO DA CHEGADA


Quando desapareceu de onde vivia seco, Antônio deixou para trás apenas lembranças dos gestos sonhadores e da voz que anunciava: “volto somente quando descobrir do que é feito o mundo fora desta lonjura eterna”.

Depois da longa caminhada, Antônio Deslumbrado adentra a cidade barulhenta com pés taciturnos. Numa praça, crianças encantadas rodeiam o homem que faz Deus com marionetes maltrapilhas. Nada desvia a infância dos olhares congelados, sejam os das crianças, sejam os de Antônio Deslumbrado.

— Vai ver o mundo nem é tão vasto e desconhecido como dizem...

segunda-feira, novembro 10, 2008

CORROSIVO

Corrosivo


Mim é uma rata incompreendida. A paixão é coisa burra, repete Mim para Si, mas como não amar um gato assim gentil e de pêlos flutuantes? A paixão é coisa burra, disse um dia Si a Mim. Eu sou burra, eu sou burra, burra! Mim matutava e perambulava distraída. Então, craque!, foi capturada pela ratoeira e sequer comera o queijo. Burra, burra, burra! E a única preocupação da pequena rata em tão crítico momento era que a visse o gato estúpido, já que decerto tentaria salvá-la, e a paixão é coisa burra, muito burra, para Mim.

CLOÉ E OS ENCONTROS

CLOÉ E OS ENCONTROS



Cloé,
mulher de várias faces,
circula sem destino,
mas objetivada.

Aprendeu com as esquinas
um truque fabuloso:
de um olhar para outro,
a cidade, em burburinho,
embebeda-se em orgias
e orgasmos controlados
pelos raios invisíveis
dos desejos da
mulher.

Cloé,
mulher de várias faces,
saiu ilesa de guerras milenares
e arrebatamentos sem igual.

Agora, trabalha nas ruas
por felicidades mudas.

segunda-feira, novembro 03, 2008

ACERTADO

ACERTADO



fogo felino
num dado encantado
fulgor de menino

quinta-feira, setembro 11, 2008

CEREBRAL

CEREBRAL


o poema do brejo
preso no capão
apenas vejo
com minha mão

quinta-feira, setembro 04, 2008

ANIVERSAR

ANIVERSAR



vinte e dois
dois dois
vinte e dois

os anos lançam pedras
na vidraça das minhas perspectivas

quatro de setembro
de dois mil e oito
vinte e dói
a dor de sempre

não tenho mais a idade dos autores jovens
em sua primeira publicação
tampouco a dos experientes

não serei aclamado em minha estréia
visto que estou aqui
um salto após o que quero
e nu
sobre o palco iluminado do teatro vazio

não tenho a vivência dos adultos
já não me cabe a euforia dos adolescentes
estou como ninguém além de mim

estou no mesmo lugar
em que estive ontem

estou no mesmo corpo
em que estive ontem

estou no mesmo hoje
em que estive ontem

o ano é outro
mas o tempo é o mesmo

e a idade é um selo que o homem encarnou

vinte e dois
dois patinhos na lagoa
serena do meu sangue

BINGO!

quarta-feira, agosto 20, 2008

MADRIGAL GENÉRICO

MADRIGAL GENÉRICO


Não é que eu queira
discutir Nietzsche,
analisar
Marília Pêra
ou Afrodite.
Sei que desbanca
minha retórica
ao declamar
Florbela Espanca
no edredom
ou ao citar
Carlos Drummond
em devaneios.
Mas, ouça bem:
não me interessam
os seus enleios,
se você lê
o que não leio,
se você sabe
os descaminhos.

Pois você veio
de mansinho
descortinando
os próprios olhos
e agora eu —
fútil ­e burro —
sei que já ando
vazio, rindo
dentro do breu,
donde sussurro:
“Lindo... és lindo...
e serás meu”.

segunda-feira, agosto 18, 2008

Haicai III

Diagnosticado:
o dia agora
em nós foi esticado.

sexta-feira, agosto 15, 2008

ENGANA-SE

ENGANA-SE



não pense não
que sou dengoso
não pise não
que sou lodoso
fique de fora
sou infernal
meu coro cora
meu toque é mau
meu sonho são
meu tempo não
não peça não
consolação
não force não
que estou lacrado
não chore não
que sou safado
e me aproveito
e desacato
e rarefeito
mesmo mato
não tente não
que todos sabem
que dou a mão
de sacanagem
não queira não
que sou famoso
pra solidão
sou talentoso

quarta-feira, agosto 13, 2008

OS TERÇOS FATÍDICOS DE BAUCI

OS TERÇOS FATÍDICOS DE BAUCI



I.
Ela despreza o chão.
Odeia sentir-se presa a qualquer coisa.
Quer ser como um pássaro
a enganar a gravidade.
Mas ela não tem asas.

Não quer prender-se a nada.
Ela está presa à solidão.


II.
Ela respeita o que não é
e teme o poder de seu próprio toque.
Admira a evolução natural das coisas.

Celebra atentamente as modificações do mundo
e não se dá conta do que nela muda.


III.
Ela idolatra tudo em que não está contida.
Ama sua ausência,
sua não-interferência.
Ela não se ama.

Tudo o que não faz parte de si, ela quer.
Ela não quer nada.

quarta-feira, agosto 06, 2008

UMOLHAR

UMOLHAR
para Wanessa



sou um beberrão
quando você ressaca
num sopro qualquer
e a terra embriaga-se
às gotas divinas
de um mar mulher


tu és a água na lua
que evapora e brota eterna
e sempre que flutuas nua
o mar recolhe-se entrepernas

segunda-feira, agosto 04, 2008

FALTA FALTA

FALTA FALTA


tantos olhos me roubaram
que não vejo
que não vejo

segunda-feira, julho 28, 2008

POLEMINHA SALGAZ

POLEMINHA SALGAZ



tô tão
______ solzinho

tu tão
______ plutão

que brinco pondo

éles
____ onde
__________ eles
_______________ não

quinta-feira, julho 24, 2008

ELEGIA PRÉTUMA

ELEGIA PRÉTUMA




eu vou morrer
e ficará como rastro meu
muito do que digo efêmero

os poemas, se ainda os lerem
serão resquícios de uma pouca alma
meu fragilíssimo lirismo
desmanchar-se-á com o passar dos anos
sob minha ausência tenaz

as recordações serão agruras de se esquecer
na ausência alheia
que tão cedo há de emparelhar-se à minha

o meu corpo eterno será sêmem
e o mundo se encarregará da minha imortalidade
porém o que desta consciência única carrego
de poderoso e autoconsciente
morrerá comigo

minhas palavras gravadas em papel
hão de esmaecer
minhas canções gravadas no ar
hão de se perder no espaço e degradar

meus amores hão de rir-se
como de uma piada sem graça
da qual se ri apenas pela estranheza
minhas paixões serão confundidas com mentiras
até se tornarem

eu vou morrer
e, enfim, nada do que sou restará
pois nada do que sou
do que realmente soul
assim inquebrantável e infinitamente presente
os sentidos absorverão


tem mais valor em mim o que omito

segunda-feira, julho 21, 2008

AS DEPENDÊNCIAS DE MAURÍLIA

AS DEPENDÊNCIAS DE MAURÍLIA



Há duas Maurílias:
uma diante dos olhos
e outra frente às lembranças

A Maurília de hoje
maliciosa e sorridente
consome o espírito do homem frágil
numa saudade teimosa da Maurília de outrora
provinciana e pudica

O cheiro de terra molhada
da Maurília memorável
é relembrado, desejado e cultuado
no barro nojento
da Maurília moderna

A Maurília do passado contudo
ao ser presente
era como a Maurília do presente então futuro:
dispensável e vazia de emoções

A maravilha da Maurília antiga
deve-se pois à tristeza da nova Maurília

que traz aos olhos do homem frágil
lágrimas de penar e gratidão
ao desprezível ódio que agora toma o lugar
do amor de plásticos sonhos passados

quinta-feira, julho 17, 2008

MEP II

MEMÓRIAS ESDRÚXULAS DE UM POETAZINHO



II


Davi dependurou amanhã
todo na árvore do vô
Davi cuspiu a tarde
na cabeça da tia Fátima
e apanhou a noite
numa bacia de água roxa

MEP I

MEMÓRIAS ESDRÚXULAS DE UM POETAZINHO



I


mamãe me gritou no portão Sai
daí que quase que só tem escuro
pisei no pé do escuro e corri
o mais rápido que pude
desde aquela todas as noites
ele sussurra uma vingança
embaixo da minha cama

quarta-feira, julho 02, 2008

DESPINA & A CONFICÇÃO

DESPINA & A CONFICÇÃO



oceanos indico
com os olhos mareados
desmanchando neste deserto
oceanos passo e fico
a vislumbrar a imensidão
ondulada
do teu navio distante
no qual ancoro
e me indigno
enfureço e coro
por jamais tocar
a margem da tua
miragem

existes assim
quando longe
de mim

cordilheiras andes
com teus cascos descalços
e tuas bossas dançantes
sobre as costas
então me arrebate
deste infinito
azul
deste calado alarde
deste balde profundo
quase que te sinto
cheiro de areia
quase que te troco
mas, quanto mais te chego
mais mar me sereias

existes assim
quando longe
em mim

SOBRE O CLICHÊ

SOBRE O CLICHÊ


acontece em mim,
se de perto vês
o que escondo em meu âmago:

borboletas bêbadas
piruetam no céu
da boca do estômago.

sexta-feira, maio 30, 2008

CINEMA II

CINEMA II



A vida é uma tragédia simplória:
_________todos morrem no final.

sexta-feira, maio 09, 2008

CINEMA I

CINEMA I



nosso drama
debochado
sobre a cama
desforrada
causou risos
e assovios
nos cinemas
vazios

nem os espíritos
que sucumbiram
à melancolia
de viver
souberam conter
a ironia
ou sequer chorar
nossa alegria

re-cor-ta-da

quarta-feira, abril 30, 2008

AUTO-EUFEMISMO

AUTO-EUFEMISMO



Quero que em minha lápide
rabisque, contente, qualquer criança
com graveto ou alegre lápis de
cor azul celeste:
“aqui jaz uma lembrança”.

E que a luz do pensamento infeste
de poemas e simpatia os ais
que hão de chorar meus pobres entes
e zombar meus vizinhos imortais.

sexta-feira, abril 25, 2008

AUTO-NEOLOGISMO

AUTO-NEOLOGISMO


sou o culto do imprestável soberano:
no espírito trago calos
coração calado engano

quinta-feira, março 06, 2008

UNE VERSOS

UNE VERSOS



...

todo

um

é

um

todo

...

segunda-feira, março 03, 2008

.III

O que desconfio, ninguém prova.


__O que silencio, ninguém prosa.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

QUINZE

QUINZE


Nosso dia:
a realidade pesa
tanto que fantasia.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

EXPOSIÇÃO DE LEÔNIA

EXPOSIÇÃO DE LEÔNIA



Leônia sente muito
prazer
em desprezar o que ama
profundamente
por um dia

Leônia empilha os cacos do seu passado
em grandes montes de decepções
que larga pelas ruas
como rastro

Satélites curiosos
estudiosos do coração desprecedente de Leônia
captam expressiva arte moderna
de lágrimas solitárias gozos fúteis
e risos sarcásticos
nas ruas descartadas
do mapa mundi
de Leônia

O oceano de lixo fomentado por Leônia
sofre duríssimos terremotos
enquanto ela sorri de seu casulo

A alma de Leônia é inabalável
porém seu corpo sofrerá duras deformidades
com o advento da Grande Catástrofe
a qual transformará todo o universo de presentes de Leônia
numa descomunal avalanche de passados reprimidos

terça-feira, janeiro 29, 2008

Haicai II

Vivo o ilógico passado:
quanto mais longe,
ao lado.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

A-MAR

A-MAR


o mar em meus olhos
___está concentrado
como um pingo
___em corpo plano

inconsciente
___eu te oceano

terça-feira, janeiro 08, 2008

INVASIVO

INVASIVO

Quando parei frente ao espelho pela última vez, ele, a imagem refletida, não me olhava. Olhava para ele, o outro eu, e para ele eu parara de olhar. Foi naquele exato e fugaz momento de estupidez que minha sanidade se deu conta de sua demência ao manter uma imagem dupla involuntária. Meu espelho o abraçava e, aos poucos, rachava-se. Admirei-me dividido em minúsculos eus, espalhados por aquele imenso corpo de vidro, e eus o abraçavam amorosamente; minhas palavras na boca do meu duplo.
Meçamos, então, a fatalidade deste caso: um espelho que me reflete desprende-se de mim e retoma uma vida por mim abandonada. Quem guia o espelho? Minha imagem ou sua estrutura? Qual de nós ele há de querer? E qual realmente vê?

sexta-feira, janeiro 04, 2008

AMOR DO MUNDO

AMOR DO MUNDO


Intro.: C9 D/F# A9 F6

(C9 D/F# A9 F6)
a lua virou holofote
teu corpo virou meu bote
_______________________Dm7 Am7
minhas mais recentes lembranças
Em7 ________FM7
viraram toda minha vida

a boca virou imã
teu nome virou rima
teu sorriso virou meu
descanso onde a tarde dorme

silêncio virou confissão
certeza talvez não
o toque da tua mão
virou cura pra minha vaidade

Dm7 Am7 CM7 Dm7 CM7 Am7
só posso ser um sendo teu
Dm7 CM7 Am7 Dm7 Am7 CM7
só vejo o mundo quando teu
e sou só meio, se não for teu
pra ser inteiro só sendo tu
a razão, perco se não te vejo
pra ser eu mesmo só sendo teu

G7 ____________F7 ____Em7
o meu tesouro você me deu
___________F
e eu pergunto:
G7__ Bb7_ F7 ____Am7 __G7____ F7 ___C
onde guardar o amor de todo o mundo?