segunda-feira, dezembro 31, 2007
DESEJOSO
quero-te para choque
para chocolate, para
cara a cara
meu topázio, ônix
minha jóia rara
minha cara fênix
quero-te para o pó
para o posso tudo ou nada
quero-te por perto
quero-te concreto
quero te ser, ave
teu reflexo, reflito
não te quero para entrave
quero-te para atrito
quinta-feira, dezembro 27, 2007
quarta-feira, dezembro 26, 2007
MOONLHER
tu tens o mar no teu quarto
que amanhece sempre que te acordas
espalhando conchas sobre a cama
e areia no chão que pisas descalça
o céu pousa em teus cabelos vermelhos
e é aurora teu olhar sonolento
toda a maresia se concentra no teu hálito
quando falas tal qual uma gaivota sorridente
há ondas que se formam nas curvas da tua cintura
e vêm quebrar na tua virilha
assanhando as algas das tuas costas
e brincando nas tuas cavidades submersas
e, quando adormeces, eis o crepúsculo!
é nesta hora que toda a natureza paira
e observa o quanto deus foi sábio
restringindo a imensidão às extremidades do teu corpo
quinta-feira, dezembro 20, 2007
IMPROVISO SOBRE ONTEM
___as?
reestruturando as ligações
para tapar fendas espaciais
cobrindo com cimento
os defeitos transversais
como olvidar os ais?
como desmistificar os acertos
temporais
entre eu e elas?
como ser convincente
da falta que não farão?
revivendo ou recriando-as?
como catalogar?
lembranças sempre lembranças
vidas embalsamadas
interferências no galgar
dos que se atrevem a reviver
ou simplesmente recriar
sexta-feira, dezembro 14, 2007
DECLARAÇÃO ÚLTIMA
do que fui o que sou
um freqüente entrave
um lamento podado
escondido e mostrado
do que foste o que és
do que és nada foste
senão este rir
que se riu também rui
e se rio não é do
que sou, mas do que fui
do que fui o que sou
um freqüente entrave
um lamento podado
escondido e mostrado
quarta-feira, dezembro 12, 2007
DO SONHO CONTÍNUO
sexta-feira, novembro 30, 2007
AGRIPINO E A NOITE
quarta-feira, outubro 10, 2007
MAR & CIA
não feche os olhos
não tranque a porta
não fique morta
de cansaço
não se aposente
não se retire
dos aposentos
não desfaleça
não se esqueça
que o laço solta
e um dia volta
do mar longínquo
o seu amado
com muito afinco
no regressar
e garças loucas
no céu da boca
para te dar
quinta-feira, setembro 20, 2007
DO SEU CALAR
meu amor
não se move
o meu love
só se perde
perde tanto
que nem say
sempre muda
sempre mudo
sempre sexy
como antes
e eu só peço
o que eu want
para mim:
alfabeto
nunca falte
há lá in?
cá tão out!
segunda-feira, julho 30, 2007
PIO PRIMEIRO
__________injusto hoje
________que eu bem-te-vi
_______você vem me ver
_______de busto nu
__________injusto tu
_________que não me beijas-
___________flor de língua
_____________sabiás que sou
_______________João de barro
_____________e me derreto
__________e me desgarro
________e pio arfante
______porque meu bando
___é qualquer banda
______que me encante
quinta-feira, julho 26, 2007
segunda-feira, julho 23, 2007
TENTATIVA EXPLICATIVA DE RETRATAR ALGUMAS CHAVES DIALOGAIS
I. Cumplicidade:
II. Decepção:
III. Fernanda e Leandro:
IV. Dúvida:
V. Nós:
VI. Ilbs:
VII. Batráquio:
VIII. ...:
IX. Intimidade:
X. Vibração:
terça-feira, maio 29, 2007
PARA A OUTRA PONTA DO MEU CORDÃO UMBILICAL
eu gostaria de escrever o mais belo poema
ausente em tudo de mim
e esculpido por borboletas
e perfumado de jasmim
e pontuado de estrelas apagadas
mas, em se tratando de você
não consigo ser poeta
gostaria de poder dedicar-lhe minhas melhores metáforas
com minhas imagens mais surpreendentes
só porque você pediu
e porque me olhou como minha mãe
e foi como se eu tivesse nascido naquele momento
e me deu vontade de chorar
pra te mostrar que sou saudável
mas, em se tratando de você
minhas letras se esvaem roxas
eu tentei ser fantástico, ser único
pra te presentear com um poema emoldurado
de palavras coloridas e música de passarinho
pois achei que assim você esperava
mas os meus versos saem conto
em se tratando de você
o meu parágrafo perde o ponto
final da história infinita
dos nossos umbigos profundos
eu queria usar palavras inesperadas e difíceis
ou apenas bonitas e engraçadas
como é você
eu queria dizer pulverizador
mas minhas idéias se pulverizam
e meu poema fica assim previsível e comum
como sou eu
em se tratando de você
quarta-feira, maio 16, 2007
terça-feira, maio 15, 2007
sexta-feira, maio 11, 2007
quinta-feira, maio 03, 2007
TEMPESTADE
temporada de temporais
no nosso telhado
trovões e raio
o só de sempre
deitado de lado
tá faltando cor
na nossa fachada
tá faltando brasa
na brisa de maio
temporada de temporais
no nosso telhado
mas chega pra cá
que não curto circuito
fechado
sexta-feira, abril 13, 2007
TEMPO VERBAL
o certo é não ter vírgula
entre um e outro
e acabar com o travessão
atravessado na garganta
o certo é serem um ponto
nada de reticências
um único ponto
sincero e preciso
geometria perfeita
feita de corpos sobrepostos
postos à prova dos nove
minutos
segunda-feira, abril 09, 2007
RUMOR INTERNO
Quando se pega pensando na
razão pessoal e filosófica
que leva os besouros suicidas
a se lançarem contra os pára-brisas
é que um homem percebe o quanto está realizado
Ali não precisávamos de mais nada
(a televisão mais próxima ficava a três dias de distância)
tínhamos tudo
e a terra nos chamava pelo nome
Éramos signos uns dos outros
e dignos
de sermos todos o mesmo
Num particular partilhado
cada partícula era o absoluto
e todo fundamental, uma parte
Mas voltamos...
Renata disse que
(eu concordei)
E Oliver
com uma (bela e) certa sede poética
apontando o horizonte:
(que luz teria orgulho de apagar o céu noturno?)
Havíamos levado tudo:
E apenas voltou conosco
uma saudade triste e grata
acenando para o passado
pela janela traseira
do carro
segunda-feira, abril 02, 2007
ILHA DESERTA
No Havaí que havia aí
meu tornado virou sopro
o meu coco, açaí
minha casa pegou broca
tsunami, pororoca
meu silêncio virou cri
No Havaí que havia aí
meu Beethoven virou hula
o meu clássico, uma bula
minha harpia, colibri
minha erva virou pó
o meu clique virou pi
No Havaí que havia aí
minha costa virou grão
o meu pão virou migalha
minha tralha virou me
tempestade, então garoa
oceano, então lagoa
minha certeza virou se
No Havaí que havia aí
meu horizonte virou arco
o meu caro saiu free
o meu céu virou pintura
Oceania, Cingapura
Oiapoque virou Xuí
No aí que havia aqui
Havaí virou nordeste
armadilha virou teste
margarida, bacuri
No Havaí que havia aí
minha repulsa virou gozo
e minha calma, frenesi
domingo, abril 01, 2007
PENSAR NISSO
sábado, março 17, 2007
BARULHO NA CIDADE
quinta-feira, março 08, 2007
NADA OU QUASE
Eis um recorte de uma das aventuras que vivi com meu amigo Vicente Marinho (acho que pelo gosto) na época em que filmávamos um documentário inútil. Tão ínfimo, ou mais, quanto nossas pretensões.
— Ei, garotos, o que vocês estão fazendo aí?
— Nada, moço, estamos só filmando algumas latas enferrujadas, folhas secas e borboletas que rastejam. Coisas desprezíveis.
— Hum... e de onde são vocês?
— Somos alunos. Estamos em pesquisa acadêmica.
Vinte minutos depois...
— À esquerda vocês podem ver o pássaro Tuiuiú e, logo ali na frente, um belo exemplar de águia-chilena.
— Nossa, é incrível! Chega a ser amedrontador!
— Olha aqui o Tuiuiú, Vicente. Eu sabia que ele era imenso assim.
— “... mais importante por seus pronomes do que por seu tamanho de crescer”.
— Exatamente!
— Você acha que deveríamos filmar isso?
— Não, não vamos desperdiçar bateria!
— Esse cara deve estar pensando que somos loucos.
— Moço, que pássaro é aquele que está sobrevoando a reserva? Ele voa tão baixo e parece ser lindo.
— Aquilo é um urubu, rapaz!
— Vai Vicente, não perde a oportunidade. Filma! Filma!
Aquele homem havia nos viciado em nada ou quase.
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
SEM TÍTULO
Ele pulou.
Do outro lado o infinito cintilava.
(Quando criança sonhava ter atrás da casa da madrinha uma floresta
e atrás da floresta o abismo e Marte)
Ninguém se aborreceu com sua audácia
mas não podia seguí-lo.
Era impossível para Ninguém pular o muro do horizonte.
terça-feira, fevereiro 13, 2007
CONTEXTO
Fui encontrar no dicionário
uma palavra nada óbvia
que pudesse presenteá-la
com uma rima surpreendente.
Mas, veja só, minha flor,
vamos tomar cuidado,
guardemos nosso amor
no cofre atrás do armário.
Eu vi, eu vi:
ele é fungível!
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
HOJE A NOITE É BELA
domingo, janeiro 28, 2007
EM GULA
da primeira vez
que lhe falei Leminski
você me perguntou
se era de comer
e eu não entendi que
estava diante de uma
exímia degustadora
de poemas
sábado, janeiro 13, 2007
RECADO MARÍTIMO
O bilhetinho em guardanapo,
ele enrolou com esmero e riso.
Pôs na garrafa, então, vazia
do vinho tinto — noite longa!
Lançou-a mar e brisa adentro,
entre soluços rituais,
endereçando à sua dama.
E, assim, no dia que nasceu,
ela encontrou, ao pé da cama,
um beijo bêbado e, ademais,
embrulhadinho e todo seu,
um AMOR em letras garrafais.