quarta-feira, dezembro 12, 2007

DO SONHO CONTÍNUO

DO SONHO CONTÍNUO


Todos os dias, ao acordar, eles trazem consigo uma recordação de seus sonhos: tampas de garrafa, vestidos manchados, sapatos quadriculados, penas de andorinhas mortas, sofás vermelhos, colares de pérolas, escadas de madeira degradadas pela ação dos cupins. Os sonhos, nem sempre fixados, se perdem nos escoamentos da memória; os objetos, porém, enfeitam as casas, ruas, escritórios, bares e universidades de suas vidas reais. Distraídos, eles não percebem o que passou a existir de ontem para hoje em seu mundo, e não se dão conta do que trazem consigo das noites desacordados.
Não se sabe exatamente quando aconteceu: tantas foram as lembranças trazidas dos sonhos, e tão presentes eles se tornaram, que não se pode enxergar a linha que divisa realidade e imaginação. Já não faz diferença acreditar que se vive na realidade se ao sair de casa eles calçam sapatos de um passado onírico. Tampouco vale crer que os sonhos são formas etéreas impossíveis de se alcançar se todos os dias eles confundem um rosto real com um sonhado em noites anteriores; e que são, sim, o mesmo.

2 comentários:

Renata disse...

bom, vou ler amanhã de novo porque agora to meio atormentada... mas quando eu falei de ativação de um conhecimento prévio eu não tava falando de recordação... enfim... vamos ter uma conversa digna do Anal sobre isso, ok?

Isabella Brito disse...

Na verdade eles são bem mais reias do que a própria realidade, basta acreditar.