quinta-feira, julho 24, 2008

ELEGIA PRÉTUMA

ELEGIA PRÉTUMA




eu vou morrer
e ficará como rastro meu
muito do que digo efêmero

os poemas, se ainda os lerem
serão resquícios de uma pouca alma
meu fragilíssimo lirismo
desmanchar-se-á com o passar dos anos
sob minha ausência tenaz

as recordações serão agruras de se esquecer
na ausência alheia
que tão cedo há de emparelhar-se à minha

o meu corpo eterno será sêmem
e o mundo se encarregará da minha imortalidade
porém o que desta consciência única carrego
de poderoso e autoconsciente
morrerá comigo

minhas palavras gravadas em papel
hão de esmaecer
minhas canções gravadas no ar
hão de se perder no espaço e degradar

meus amores hão de rir-se
como de uma piada sem graça
da qual se ri apenas pela estranheza
minhas paixões serão confundidas com mentiras
até se tornarem

eu vou morrer
e, enfim, nada do que sou restará
pois nada do que sou
do que realmente soul
assim inquebrantável e infinitamente presente
os sentidos absorverão


tem mais valor em mim o que omito

Um comentário:

Isabella Brito disse...

(Finalmente posso ler tudo em paz.)

Maravilhoso este poema.

Se o que mostramos é o que supostamente somos e o que supostamente somos é tirado de nós. Se não levamos muita coisa desta vida é melhor que o mais valioso seja omitido mesmo.