sábado, dezembro 16, 2006

DA SUA VOZ

(para/por causa de Céu)


DA SUA VOZ I


seu falar é como um rio
fazendo-me de foz

inundação de voz

fico sempre encharcado
e quase morro afogado
por águas tão profundas




DA SUA VOZ II


Deita aqui comigo
diz aquilo tudo
que você comprou uma lembrancinha pras meninas
saiu andando da casa de Ana quando ai! cortou o pé
tomou banho gelado fez mal à garganta
três pontos não doeu odeia sangue no calcanhar direito quer ver?
ia sair às três mas sentiu dor de cabeça e dormiu um pouco mais
um bêbado gritou com você e imita a voz dele
e o som da água no banho
(...)
diz aquilo tudo
não importa o conteúdo
o que me encanta é a forma
do seu som



DA SUA VOZ III


eu subterrâneo
arquiteto
o céu da boca
sem-teto
galáctica voz
arranha-céu
de Céu




DA SUA VOZ IV


se você cantasse
pr'eu dormir
eu não dormiria


DA SUA VOZ V

das minhas palavras
tentei fazer o som
do gosto da tua boca
mas o som do gosto
da tua boca só cabe
nas tuas próprias
e ao lado disso minha
poesia canta funk

sábado, dezembro 09, 2006

NÁUFRAGO

NÁUFRAGO


Pesquei uma letra curva
para a esquerda, meio
angustiado, na água turva
de um rio sem cor.
Um rir despedaçado
que você me causou,
dizendo que toda letra
que minha isca, folha
em branco, pudesse cap
turar seria sempre
peixe morto, foi
a razão da minha lágrima
curvada pra direita
que encheu de tinta
aquele rio sem cor
onde me afoguei
e alguém pescou
este poema a nado,
este poemador,
que nada mais é
do que um poema nada dor.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

TARZAN NO BORDEL

TARZAN NO BORDEL (ou “meu deus, como eu não tenho ninguém!”)


Sentou-se à mesa decidido. Coca-cola, por favor! Não temos esse refrigerante. E qual vocês têm? Nenhum deles. Então vou ficar com sede? Temos cerveja e pinga. Então vou ficar com sede.
Um homem sentou ao seu lado. Vai hoje? O que disse? Vai um hoje? Não estou entendendo. Você é retardado ou o quê? Sou o quê. Vai tomar no cu!
Chamou o garçom mais uma vez. Tem água aí? Você está mesmo com sede. Tem ou não tem? Só da torneira e da privada. Traga-me um copo da torneira.
Copo d’água na mão, levantou-se e foi em direção a um casal que se esfregava numa mesa próxima à dele. Jogou a água no rosto da loira deformada. Você poderia ter sido minha. Você está louco? O que você pensa que está fazendo, mané? Você poderia ter sido minha! Dá um cascudo nele, negão! Eu não sou de ninguém, demente filho da puta! Vai sair na boa ou quer que eu ponha você pra fora daqui na porrada? Calma, Sérgio! Quero que você me ponha pra fora daqui na porrada.
Com a cara inchada e as roupas rasgadas, caído na calçada depois da surra que levara, ouviu o garçom, que viera para acudi-lo: são três reais pelo copo d’água.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

BLOG DE SETE CABEÇAS


A convite da adorável Nanna Branco, hoje um poema meu será postado lá no Blog de Sete Cabeças, então passem em casa! Espero vocês lá. ;)

terça-feira, dezembro 05, 2006

NAMORO VIRTUAL

NAMORO VIRTUAL


você disse que mandaria
seu amor pelo correio
eletrônico e ele veio
amarrado
feito capim no feixe
— caiu na rede é dado

domingo, dezembro 03, 2006

RETICENTE

RETICENTE


vamos abrir um parênteses
nesses nossos pontos finais
(chega de nós com soantes
perdas das nossas vogais)

sábado, dezembro 02, 2006

DEGRAUS A MAIS

DEGRAUS A MAIS


petisco fervente
no meio da tarde
em meras palavras
meias verdades

é chegado o ponto!
é chegado o ponto
crente que nunca
estaria pronto

alguém retirou
minha redoma
não quero que entenda
quero que coma